LEAL DA CÂMARA UM FANTASISTA REALIZADOR DE SONHOS:A ESCOLA DA RINCHOA
Leal da Câmara foi um Português de invulgar talento, faceta que tem sido realçada por diversos que o têm estudado. No entanto,à medida que vamos conhecendo o "sonho" que idealizou para materializar na Urbanização da Rinchoa, não temos dúvidas, Leal era um homem que possuía o dom da genialidade.
Acúrsio Pereira escreveu, em sua memória um belissimo trecho onde desvenda um pouco do mistério da personalidade de Leal da Câmara, nos termos seguintes:
"Feliz este Mundo! Os cavaleiros do Graal de alma angélica e corpo virgem continurão a passar serenos e bravos alegremente sofredores desinteressados e justos, embora deixem avermelhado com o próprio sangue as rosas brancas dos atalhos campestres".
O seu amigo sabia porque escreveu, tendo convivido com Leal durante muitos anos assistiu à concretização de uma das suas obras símbolo do ideal que sempre norteou o seu modo de viver. A escola primária que projectou para a Rinchoa, para além da sua função de difundir a instrução foi imaginada como um templo erigido à Glória de Deus e ao amor pela humanidade, este de acordo com o seu ideal republicano: "era o único digno da condição humana", como postulara Sampaio Bruno.
Na escola da Rinchoa, a entrada principal é franqueada transpondo duas colunas, e como é possível aceder ao interior por três lados da porta as colunas totalizam quatro: número das letras do nome de DEUS. Na frontaria foram rasgadas quatro janelas.
Num lado da porta principal num esboço em gesso dentro dum circulo, está a face de Feliciano de Castilho, o pedagogo cego e autor do belissimo poema a ROSA. No outro lado, com o mesmo pormenor construtivo está João de Deus, autor da Cartilha Maternal. Encimando o conjunto a imagem de Nossa Senhora das Mercês.
Estamos perante uma possível alusão ao grau 18º do Rito Escocês Antigo e Aceito da maçonaria universal denominado: Soberano Príncipe Rosa-Cruz. Neste grau segundo os rituais conhecidos as colunas designam-se: FÉ, ESPERANÇA e CARIDADE.
Castilho por ser cego representa a FÉ, para acreditar tendo fé não é preciso ver, João de Deus e a sua cartilha dedicada as crianças simboliza a ESPERANÇA num provir melhor. Nossa Senhora das Mercês porque mercê é dádiva representa a CARIDADE.
Esta obra de Leal, prova o seu deísmo e a crença no carácter divino do ideário da verdadeira República onde a ética e a liberdade conduziriam o Povo à plenitude da democracia.
Leal da Câmara acreditou sempre que a Pátria é uma comunidade de sonhos, aproveitemos o seu exemplo e não deixemos que nos retirem esta convicção. Para além de todos os golpes dos mais ousados e sem escrúpulos: "os desinteressados e os justos" irão alcançar a República sonhada desde os tempos de PLATÃO!? Quem sabe?"as lições do passado são os ensinamentos do presente. No entanto não esqueçamos a imagem de Manuel Bernardes: "é quimérico pretender endireitar a sombra da vara torta".

