CARTA DO OCIDENTE NO DIA EM QUE O PAÍS VAI CONHECER OS TERMOS DO SEU DEFINHAMENTO
Não dizemos nada, não vale a pena, segundo a imprensa e televisão bandos de abutres atacam de noite os rebanhos, nas planuras da Beira onde se ergue a Capela de Nossa Senhora do Almourtão, e devem voar para a capital qual quarta invasão, maldita. Os outros espécimes daqui já devem ter emigrado os seus capitais, para paraísos fiscais. Para a maioria que vive dos seus parcos salários e pensões está programada uma lenta e atroz agonia. No entanto antes que nos fuzilem com a extorsão do nosso sustento, deixamos para que meditem um texto de Manuuel Laranjeira, enviado a D. Miguel de Unamuno em 1908.
"Em Portugal (veja a profundidade do nosso mal!) há almas tão sucumbidas que dizem que - tanto faz morrer dum modo como doutro. Esta insensibilidade moral é pior do que a morte, não é verdade?
Ás vezes, em horas de desânimo, chego a crer que esta tristeza negra que nos sobe da alma aos olhos; e, então, tenho a impressão intolerável e louca de que em Portugal todos trazemos os olhos vestidos de luto por nós mesmos.
É claro eu sou português e portanto filho dum povo que atravessa uma hora indecisa e crepuscular do seu destino (...) Será o crepusculo que precede o dia e a vida, ou crepusculo que antecede à noite e á morte?".
Acreditamos que é aquele que precede a vida. Iremos afastar os abutres, "porque nem bispos nem pitonisas" têm poder para suster a nossa indignação,que é um direito de CIDADANIA.