Informações dispersas induzem a ideia a igreja paroquial,da freguesia de Rio de Mouro,Município de Sintra, sofreu estragos de monta consequência do sismo século XVIII, devastou grande parte de Portugal e sul de Espanha.As memórias paroquiais de 1758,pouco adiantam relativamente a esta localidade,
Encontrei nos registos curiosa nota " a margem" do pároco Luís Francisco Simões ,escrita dois meses após o terramoto, seguinte teor:
" Em dia de todos os Santos ao 1 de Novembro 1755 sucedeu grande terramoto, pelas novas horas e três quartos , que arruinou e destruiu a cidade de Lisboa e muitas vilas ficaram arrasadas e igrejas e casas caídas e logo abrasou e queimou a maior parte de Lisboa e morreram muitas mil pessoas debaixo das igrejas de Lisboa e das paredes de casas e ruas e ainda vão continuando os tremores de terra há mais de dois meses " .
Testemunho elucidativo da dramática situação vivida, não sendo feita alusão a Rio de Mouro , dá impressão, teria havido pânico, mas perdas de vidas e bens não suscitaram comentários do cura.
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No dia 9 de Novembro,1755 o Pároco elaborou assento de óbito de paroquiana,residente "no lugar das Covas, desta freguesia não recebeu o Santíssimo Viático por morrer apressadamente por sair a fugir de casa com medo e pavor dos terramotos (réplica ) , foi sepultada dentro nesta igreja.".(sic).
O temor das pessoas durou tempo, as réplicas do grande sismo prolongaram-se durante meses.Não restam dúvidas, a igreja resistiu bem ao abalo telúrico; oito dias após o terramoto, ocorreu enterramento no templo, tivesse ficado danificado não teria sido possível utilizar o interior como cemitério.
O aspecto actual do edifício deve ser próximo do que seria na época da fundação .Mais um enigma resolvido.
A foto mostra inscrição na frontaria da igreja a data 1563
No munícipio de Sintra distrito de Lisboa Portugal,ao qual pertence o agrupamento de freguesias de Almargem do Bispo-Montelavar-Pero Pinheiro,circunscrição administrativa onde está implantada em terrenos outrora pertença da Casa Pombal,a denominada "granja do marquês"a base aérea nº1 da Força Aérea Portuguesa. Nas imediações encontramos o sítio da Cortegaça,localidade onde subsistem rústicas construcções testemunhos da sua ancestral fundação.
A origem do topónimo Cortegaça,deve ser estudada de acordo com a situação geográfica das povoações designadas por esta palavra, os "localismos " influenciam o significado.Corte tem inumeros significados ,para a nossa pesquisa escolhemos,"casal campo",evitamos aldeia porque estaremos perante povoado anterior ao domínio arabe.
Em redor de Cortegaça algumas oliveiras velhas porventura denunciam restos de robustos olivais, e também zambujos ou oliveiras bravas certificando abundância de azeitona . Uma doença que atacava as oliveiras era conhecida por "gafa", tal moléstia provocava queda do fruto antes da maturação,e consequente quebra na producção de azeite. A povoação seria conhecida por Corte Gafa; casal,campo ou terra das oliveiras doentes (portadoras de gafa).Por corruptela,tão vulgar na topononímia,Cortegafa passou a Cortegaça.
A oliveira é associda á luz, da azeitona se diz "para dar a luz ao mundo mil tormentos padeci".O azeite alimentava as lampadas,fontes de claridade,triunfo sobre a escuridão, igualmente permitia melhorar a dieta alimentar das populações em tempos de penúria.
Talvez para evocarem a protecção divina para as suas oliveiras,os moradores da Cortegaça tenham desejado como padroeira do "burgo"Nossa Senhora da Luz,em honra da qual erigiram uma capela singela e humilde,construída na entrada da povoação ladeando a antiga estrada vinda de Sintra.A escolha de alguém ou algo associados a luz ,baseava-se na antiga crença.de na luz existir um Deus misericordioso e bom;de acordo com o pensamento de J.Boehme.
A capela actual do século XVIII,substituiu a anterior destruída pelo terramoto de 1755;provavelmente,situada perto do cruzeiro,hoje no meio da estrada,antes quem sabe, adorno do adro da ermida.
O terramoto de 1755, foi uma calamidade que se abateu sobre o País todo. provocando centenas de milhares de mortos e prejuízos incalculáveis. Na vlla de Sintra, o acontecimento foi descrito pelo pároco da freguesia da Vila,nos termos seguintes:
"Neste calamitoso tempo no primeiro dia do mês de Novembro de 1755 anos em que a Igreja Nossa Mâe manda celebrar a solenidade de todos os santos, visitou Deus os pecadores no rigor da sua justíssima ira; tremeu a terra pelas nove horas e três quartos do dia com tal violência que pareceu queria sacudir de si todos os mortais. Destruiram-se todos os ediícios desta antiquissima vila, e de quasi todo o Reino de Portugal. Cairam os sagrados templos, e com tão geral confusão e agonia acharam muitos miseraveis, primeiro o horror da sepultura, que o último estrago da morte. O terror a consternação e desalento deixaram de pouco melhor condição os que sobreviveram, a quem os campos serviram de asilo, e humildes choupanas de habitação, e a infinita misiricórdia de Deus de verdadeira e única consolação."
Quando passamos por um periodo de grandes dificuldades, convém recordar aqueles que com afirmações de boçal incúria, denigrem Portugual e os Portugueses, que 50 anos depois do terrível terramoto, tivemos as invasões francesas e o abandono da classe dirigente que fugiu para o Brasil. Em 1822 a independência daquela colónia. Depois a guerra civil (1828-1834), que provocou feridas que duraram anos a cicatrizar: a bancarrota no final do século XIX, a mudança de Regime em 1910, a participação a 1ª guerra mundial, a ditadura do 28 de Maio de 1926, o Estado Novo, a guerra colonial (1961 -1974). Superaramos tudo, sem ajuda de ninguém, e ainda ouvimos dizer que temos tido uma "rica vida".
É bom lembrar isto, e a memória dos nossos antepassados, porque nos mostraram que Portugal abana e cai, mas acaba sempre por se REERGUER, por maior que seja o abalo.