Quando se demanda antiga Vila de Colares, utilizando a denominada estrada velha de Sintra que serpenteia a falda da serra, borjando quintas vizinhas do parque de Monserrate, por altura do sitio da Eugaria, deparamo-nos com rua ostentando placa informando direcção: GIGARÓS.
O topónimo deve ser único em Portugal, por isso desde há muito investigamos no sentido de decifrar significado. Percorremos encostas e várzeas das cercanias, finalmente conseguimos solução.
Sabido a aptidão das terras colarejas para produção de frutas e vinho. O transporte e acondicionamento daqueles produtos agrícolas (maçãs, limões e uvas), fazia-se desde época recuada em canastras ou gigas, normalmente redondas ou rectangulares, feitas de tiras de castanheiro, ou vimes.
O castanheiro abundava nas encostas da serra de Sintra, no termo da Vila de Colares, ainda hoje no sítio da Urca é possível, observar vestígios dos antigos soutos. O vime encontra-se nos terrenos adjacentes ao Rio das Maçãs.
Em GIGARÓS confeccionavam GIGAS, vocábulo significa, localidade onde se faziam aqueles utensílios,e habitavam artesãos que os elaboravam.
Conseguimos objectivo sem ser necessário "arrear a giga".
Um dos interessantes topónimos do território de Sintra é o de URCA. O sítio com esta designação situa-se na Freguesia de Colares na encosta ao cimo da aldeia do Penedo, onde se encontra a Quinta de S.José da Urca. No local existe um miradouro onde em dias claros se avista o mar até às Berlengas é por isso um local privilegiado para observação do tráfego marítimo.
A Urca era um navio da "família" dos galeõs e caravelas, com maior capacidade e destinado ao transporte de mercadorias nas rotas de longo curso. A sua origem é atribuída aos construtores navais holandeses. Em Portugal há notícias de Urcas desde o reinado de D. Afonso V, todavia é no século XVI no reinado de D.Manuel I que a Urca é utilizada em grande escala para o transporte de mercadorias entre o Ultramar Português e Lisboa, e a feitoria da Flandres. Nos documentos da Chancelaria daquele monarca podem encontrar-se muitas referências as Urcas. Como é conhecido D.Manuel I passava longas temporadas em Sintra em cujo palácio recebia informações sobre os barcos que atracavam e saíam da capital. Para entrarem na barra do Tejo os navios necessitavam encontrar ventos favoráveis fazendo a rota pelo norte do cabo da Roca. A zona da Serra de Sintra desde a Almoçageme até ao Rio do Touro é a que melhor se adequava à vigilância da costa como demonstra a Atalaia que deu o nome a uma aldeia que hoje existe.
Quem sabe se passou denominar Urca ao local do mirante porque daí se vislumbrou a chegada duma embarcação repleta de especiarias, ansiosamente aguardada?
O convencimento de que dali seria possível ver em primeiro lugar, surgir no horizonte, a nau esperada associou o sitio a esse facto, e daí dizer-se "vai ver se vem Urca", da acção resultou o topónimo, sem dúvida relacionado com o oceano que daqui a vista alcança numa extensa área. Curiosamente no Brasil na cidade do Rio de Janeiro há um topónimo idêntico atribuído a uma praia e um bairro junto à costa...