Na frontaria de casa meio arruinada, situada no desaparecido lugar da Cova da Onça, freguesia de Rio de Mouro, Sintra nas imediações do recinto da Feira das Mercês encontrei, pequeno painel de azulejos, representando cena da vida campestre,no caso faina da vindima.
Analisei com atenção toda a composição "azulejar", o que pareciam figuras vulgares, colocadas ali como decoração, revelou-se "documento" importante para conhecer a actividade agrícola da região de Rio de Mouro , na primeira metade do século XX.
O traje dos tipos humanos era usual na charneca saloia, carro de bois,tem pormenores construtivos idênticos aos que Fernando Galhano, designou ser "carro saloio ",cujo detalhes, omito para não alongar o texto.A composição pictórica,reporta-se indubitavelmente a zona saloia.
Este "documento" confirma a riqueza vinícola do termo de Sintra, particularmente, das terras de Rio de Mouro,onde aliás viveu,na quinta do Zambujal ilustre republicano Ribeiro de Carvalho, conhecido também como grande produtor de vinho,as vinhas ocupavam encostas do casal dos porqueiros e quinta da barroca;na quinta da Ponte Rio de Mouro "antigo", há pouco tive ocasião de visitar vetusto lagar de esmagar uvas, ao lado do qual cobertas de pó e teias de aranha, apodrecem duas pipas de 1000 litros de capacidade.
A casa um dia destes ,vai ruir , assim se perderá documento histórico valioso, não será possível, retirar o painel de azulejo ,a tempo? Oxalá
O nome das localidades é difícil de decifrar, em alguns casos quando não há certezas recorre-se à "lenda" ou à "tradição" para justificar o que é duvidoso. Vejamos um exemplo: Rio DE MOURO no Concelho de Sintra.
Uma das hipóteses inserida no "Memorial Histórico ou Colecção de Memórias Sobre Oeiras", vai no sentido seguinte:"Rio de Oeiras nasce acima do pequeno Lugar de Fanares, aqui lhe chamam rio das enguias, à saída da Quinta do Basto entra em uma ponte de boa cantaria por cima da qual passa a Estrada Real de Sintra. Aqui tem o nome de Rio DO Mouro, que o transmite a este lugar, onde segundo a tradição morreu o Mouro Albaráque Governador do Castelo de Sintra ou Cyntia, fugindo na ocasião da sua conquista por D.Afonso Henriques. Outros dizem que o dito Mouro, fora morto no Lugar que tem o nome de ALBARRAQUE e o enterraram nas margens deste Rio".
Para reforçar a "tradição" o autor alterou: Rio de Mouro para Rio do Mouro. Continuando: "Quase a chegar ao Sítio de Asfamil lhe dão o nome de Rio dos Veados. Passa pelo Lugar da Laje e correndo com nome de Oeiras...ele se mistura no Oceano".
A nossa versão,alicerçada no estudo da região onde corre o curso de água demonstra que aqui, os topónimos Mouro e Mourão coexistem. Mourão deriva de "parede" "muro grande" e também de lajes de pedra que se colocavam verticalmente em redor das eiras para proteger o cereal do vento e dos animais. Essas pedras designam-se Mouros ,sendo utilizadas nas vinhas para suportar as varas da empa das vides.
No caso do nosso Rio, desde tempos recuados os proprietários dos terrenos adjacentes, no troço compreendido entre a quinta da Preza e Francos, desviaram o curso obrigando o rio a correr entre Mouros ou Mourões de lajes e mais tarde entre muros para aproveitarem as terras férteis de aluvião.
Esta obra hidraulica ainda hoje se pode observar:ver imagem. Deste modo, RIO DE MOURO significa: RIO QUE CORRE ENTRE MOUROS ou MUROS ALTOS. A lenda não é mais forte que a evidência,só por falta de estudo se tem mantido.
Neste caso, a lenda, como justificamos, é uma fantasia.
A ocidente as novidades não cessam de nos surpreender…
O senso comum associa certas imagens a um determinado contexto geográfico. Em Portugal, se pensarmos no Outono e nos vinhedos, o pensamento dirige-se para o Douro, Bairrada e Alentejo, onde se encontram, a maioria das vinhas do país. É uma apreciação redutora das cores do Outono matizado pelas folhas das videiras.
No Algarve, que significa “Ocidente" em Árabe, porque era o oeste do Andaluz medieval, o Outono também origina paisagens de grande beleza, onde as parras vão mudando de cor e enfraquecendo até que os ventos fortes do Inverno as lancem ao chão.
O Algarve é uma região adequada à produção do vinho, infelizmente, durante séculos as suas vinhas foram perecendo até que em meados do século XX com a constituição de adegas cooperativas, se iniciou um lento mas consolidado processo de recuperação dos vinhos algarvios.
Nos nossos dias, as áreas de Lagos, Portimão, Guia e sobretudo em Lagoa, é possível encontrar explorações agrícolas que laboram vinhos de qualidade. Uma das melhores vinhas do Algarve propriedade de um conhecido cantor pop inglês está plantada, na freguesia da Guia, concelho de Albufeira produzindo os vinhos para a adega do cantor.
É uma vinha com dezenas de hectares disposta numa colina, virada ao oceano, além de bom vinho oferece-nos um quadro outonal que muitos não imaginam possível no Algarve.
Sob o luminoso e azul céu algarvio o Outono é também uma estação esplendorosa.